Quem sou eu?
Certo dia, às 6h da manhã, o professor Clovis de Barros me perguntou: — Quem é você?
Certo dia, às 6h da manhã, o professor Clovis de Barros me perguntou: — Quem é você?
— Mas veja bem — continuou ele, em um tom mais elevado. — Não estou perguntando o que você faz, mas quem você é. Espero que ouça a voz dele ecoando em sua mente, assim como eu a escuto.
Sim, ele me perguntou. É assim que me sinto sempre que escuto suas reflexões. E essa pergunta foi definitiva.
Quem eu era?
E não valia falar sobre minhas relações familiares (mãe de, esposa do), nem sobre minha profissão ou cargo atual.
Eu não sabia quem eu era. E eu fui em busca dessa resposta.
O que havia em mim desde sempre?
Foi como em um daqueles flashbacks. Voltei no tempo e vi aquela menina crescer, tornar-se mulher, mãe, esposa, profissional. Mas também percebi algo mais, algo que estava adormecido: uma mente criativa. A mente que cria histórias.
O olhar que vê notas musicais em passarinhos pousados nos fios de alta tensão. O olhar que imagina os caminhos que o tênis pendurado no mesmo fio não pode percorrer.
"Mas escrever essas histórias? Isso é para os abençoados pelos deuses, os visitados pelas musas."
Mas os deuses abençoam e as musas visitam aqueles que têm disciplina, que estudam e se colocam à prova, isso quem me disse foi Steven Pressfield.
Sim, ele me disse, em A Guerra da Arte.
E então, estabeleci um horário para receber as musas e as bênçãos: todos os dias, das 4h às 6h da manhã. Alguns dias até as 8:30.
Rotina e disciplina firmadas. Agora era hora de estudar.
Em abril, fiz um curso de "Escrita Criativa", pela PUCRS, com o professor Assis Brasil, uma referência no tema.
Com certificado! Anunciava o curso.
Assim que finalizei, meu ímpeto era sair correndo para exibir minha conquista.
Mas qual conquista? Aquele certificado só validava minha disposição para aprender. Eu precisava de resultado, de validação!
Mas como fazer as pessoas lerem o que eu escrevo? Eu precisava da validação das pessoas! Queria saber se era bom ou ruim...
Minha mãe e minha irmã, leitoras vorazes, liam e gostavam. Mas será que o amor delas é capaz de promover uma crítica verdadeira?
Publiquei no Medium, no Wattpad, compartilhei os links no Instagram...
"Leiam, leiam! Me digam o que acharam!"
Nada...
Mas continuei. Segui escrevendo, estudando, lendo e acompanhando o que acontecia no universo literário.
Em um sábado desses, enquanto limpava a casa e ouvia Eduardo Spohr em um podcast (Bunker X), descobri que era possível submeter contos para publicação na Revista Taquion FC, uma publicação de Ficção Científica que eu imaginava ser apenas para convidados.
Tal qual a Gata Borralheira, limpei minhas mãos úmidas de produtos de limpeza e fui buscar mais informações.
E lá estava!
"A edição 6 da revista TÁQUION FC será uma homenagem a Isaac Asimov. Assim, as histórias para o TÁQUION 6 devem ser fanfics das obras de Isaac Asimov."
Era o meu sapatinho de cristal! E bastava uma valsa... uma única valsa com ele, o “Bom Doutor”.
Dançamos...
Escrevi o conto.
Submeti a sinopse.
30 dias de espera.
21 sinopses selecionadas, entre as quais, a minha! Que alegria!
Enviei o conto.
40 eternos dias se passaram!
6 contos selecionados... entre eles, o meu conto:
"O fim do destruidor de mundos", o conto premiado da 6ª Edição da Revista Taquion FC.
Deu meia noite, desci as escadarias apressada, mas esse sapatinho nunca mais sairá do meu pé.
Caraca Andrezza, que história fascinante!!! Muito legal... parabéns!